Ex-secretário da CBF, indicado pelo PC do B, segue atuando sem autorização

Depois do afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF, o ex-secretário-geral da confederação Alcino Reis Rocha continua a falar em nome da Confederação Brasileira de Futebol e a se comunicar com entidades internacionais de futebol. Ele é ligado ao PC do B, partido ao qual já foi filiado e que agora acionou o STF em 23 de dezembro questionar o afastamento de Rodrigues.

Oficialmente, quem ocupa o cargo é Caio Rocha, nomeado pelo interventor José Perdiz, que assumiu o cargo em 12 de dezembro. O Poder360 teve acesso, no entanto, a uma troca de e-mails de Alcino Reis Rocha com representantes da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) iniciada em 24 de dezembro.

Rocha disse aos representantes da Fifa e da Conmebol que a “séria crise que a CBF enfrenta” é resultado de uma “absurda e indevida intervenção externa, que contradiz a autonomia da entidade”. Como os e-mails obtidos pelo Poder360 provam que ele segue se apresentando num cargo que não ocupa mais, pode haver alguma implicação legal nessa atitude.

O e-mail, enviado na 3ª feira (26.dez), foi uma resposta a uma carta enviada pelas entidades internacionais à CBF em 24 de dezembro com um alerta para possíveis sanções ao futebol brasileiro. Eis a íntegra (PDF – 133 kB).

A Fifa proíbe que as confederações associadas tenham interferências “externas” como decisões da Justiça comum, por exemplo –como foi no caso do afastamento de Ednaldo Rodrigues.

Fifa e Conmebol gostariam de enfatizar fortemente que, até que essa missão ocorra, nenhuma decisão que afete a CBF, incluindo eleições ou convocação de eleições, será tomada. Caso isso não seja respeitado, a Fifa não terá outra opção senão submeter o assunto ao seu órgão decisório relevante para consideração e decisão, o que também pode incluir uma suspensão”, diz trecho da carta.

Uma delegação da Federação Internacional de Futebol deve chegar ao Brasil na semana de 8 de janeiro de 2024 para entender exatamente o que está se passando. Na sequência, haverá eleição do novo presidente da CBF ainda em janeiro.

No e-mail, o ex-secretário-geral Alcino Rocha afirmou, ainda, que aguarda a confirmação da chegada da delegação das entidades e se colocou à disposição para “quaisquer medidas necessárias”.

O QUE DIZ ALCINO ROCHA

O Poder360 procurou o ex-secretário-geral da CBF, Alcino Rocha. Ele confirmou que continua a se comunicar com a Fifa e com a Conmebol porque as entidades “não reconhecem a intervenção externa” na confederação.

“A Fifa e a Conmebol que me tratam como secretário-geral, já que não reconhecem nenhuma decisão do Interventor. Apenas respondi ao e-mail deles, dando ciência que dei conhecimento da carta enviada a todas as partes interessadas”, declarou Alcino ao Poder360.

O ex-secretário-geral disse, também, que não acompanha a ação do PC do B no Supremo, mas confirmou que participou das tratativas iniciais “apresentando as partes para estabelecerem uma interlocução”.

O QUE DIZ A CBF

O Poder360 procurou a Confederação Brasileira de Futebol para pedir um posicionamento. A CBF informou que embora não ocupe mais o cargo de secretário-geral, Alcino Rocha continua trabalhando para a entidade como assessor especial da Presidência Interina. Caio Rocha é o secretário-geral interino e o advogado baiano Hélio Menezes segue como diretor de Governança e Conformidade.

ENTENDA O CASO

Ednaldo sofria, havia meses, uma série de pressões internas na CBF que se intensificaram com o mau desempenho da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Acusações de mau uso dos recursos da confederação vieram a público, impulsionadas por opositores de Ednaldo e embasadas em documentos vazados aos quais o Poder360 teve acesso.

Enquanto o processo do MP do Rio tramitava, o então presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi afastado do cargo por acusações de assédio sexual e moral contra funcionárias –os casos foram arquivados posteriormente, em outubro de 2022.

Ednaldo Rodrigues, vice de Caboclo, assumiu interinamente e assinou, junto ao MP, um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). O TAC possibilitou sua eleição formal em março de 2022 para um mandato de 4 anos. Esse acordo foi considerado ilegal pelo Tribunal de Justiça do Rio em decisão proferida em 7 de dezembro.

Fonte: Poder360

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