PF e MP multam fazendeiro em R$ 667 mil por trabalho análogo à escravidão em área de 15 mil hectares

O proprietário de uma fazenda de 15 mil hectares terá de desembolsar R$ 667 mil por manter cinco trabalhadores em situação análoga à escravidão em Corumbá. As vítimas foram resgatadas em operação do MPT-MS (Ministério Público do Trabalho), Ministério do Trabalho, Polícia Federal e Polícia Militar Ambiental, na sub-região do Pantanal de Paiaguás.

Cada um dos trabalhadores recebeu, na quarta-feira (22), pouco mais de R$ 37,4 mil de verbas rescisórias pelos serviços prestados, e os cinco vão dividir R$ 240 mil referentes à indenização por danos morais individuais, equivalente a 20 vezes o valor do salário acordado no momento da contratação.

O pagamento destes valores foi pactuado com o MPT-MS por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado pelo procurador do Trabalho Paulo Douglas de Moraes e por representantes legais da propriedade rural, durante audiência administrativa, realizada no dia 15 de março, nas dependências da Polícia Federal no município de Corumbá.

O proprietário da fazenda também deverá pagar outros R$ 240 mil, a título de dano moral coletivo, como forma de reparação à sociedade. O valor será revertido a entidades e instituições que promovam direitos sociais de interesse coletivo.  

Durante a operação “Pantanal Paiaguás”, entre os dias 12 e 17 de março, duas propriedades rurais, localizadas na sub-região do Pantanal de Paiaguás, foram fiscalizadas. Em uma fazenda localizada a cerca de 60 quilômetros do perímetro urbano de Corumbá, não houve flagrante do crime.  

Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, PF e PMA percorreram propriedades rurais e flagraram vítimas isoladas. (Foto: Ascom/ MPT-MS)

Já na segunda propriedade rural, distante 180 quilômetros da cidade, os cinco trabalhadores foram localizados isolados em meio à mata, dentro de uma fazenda que atua no ramo da pecuária bovina e tem 15 mil hectares.

Foi necessária a utilização de um helicóptero e de um barco, cedidos pela Casa Militar do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e pelo Grupo Especial de Polícia Marítima de Corumbá, da Polícia Federal, respectivamente, já que nesta época do ano a região fica alagada. Policiais da Polícia do Ministério Público da União (MPU) realizaram a escolta e acompanhamento do procurador do MPT durante as diligências, as inspeções e as audiências.

Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, PF e PMA percorreram propriedades rurais e flagraram vítimas isoladas. (Foto: Ascom/ MPT-MS)

Condições degradantes de trabalho

Os trabalhadores estavam alojados em um acampamento, afastado a quilômetros da sede, composto por quatro barracos, construídos com varões de arbustos e cobertos com lona plástica, e dormiam em redes e estruturas precárias, que eles chamavam de “camas”, e eram montadas de forma improvisada com troncos de vegetação. Sem paredes ou pisos, as condições expunham os trabalhadores a intempéries, animais peçonhentos e silvestres.  

Não havia banheiros e as necessidades eram feitas no mato. A água disponível ficava armazenada em um tanque pipa e servia para uso geral – beber, cozinhar e tomar banho. 

Em depoimento, os trabalhadores disseram que ela tinha gosto de ferrugem, e que até capivaras foram vistas bebendo desta mesma água.  

Residentes em Corumbá, os trabalhadores foram contratados de forma irregular para construir cercas na fazenda, por um intermediador de mão de obra. 

“O cercamento da propriedade rural é uma atividade lícita, porém, não pode ser executada nestas condições, que configuram o crime de redução à condição análoga à de escravo”, pontua o procurador do Trabalho Paulo Douglas de Moraes.

Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, PF e PMA percorreram propriedades rurais e flagraram vítimas isoladas. (Foto: Ascom/ MPT-MS)

Nenhum dos trabalhadores teve o registro formalizado em carteira ou receberam equipamentos e dispositivos de proteção individual, para se prevenir de acidentes.

Conforme o acordo feito no momento da contratação, eles deveriam permanecer no local de trabalho pelo período de 90 dias, para só então serem conduzidos à cidade, onde finalmente receberiam o saldo dos valores das diárias trabalhadas nesse período. Também não foi concedido o direito ao repouso semanal remunerado de 24 horas consecutivas.

Com a operação “Pantanal Paiaguás”, 22 trabalhadores foram resgatados de condições análogas à de escravidão em propriedades rurais de Mato Grosso do Sul, entre janeiro e 21 de março de 2023, conforme levantamento da Superintendência da Inspeção do Trabalho no estado. Em todo o país, foram 918 trabalhadores no mesmo período, o que representa alta de 124% em relação ao volume dos primeiros três meses de 2022.

Fonte: O Jacaré

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