Superendividamento: Dívida chega a R$ 7 bilhões e Fórum dos Servidores busca intervenção do Governo com apoio do deputado Mochi
Mais da metade dos servidores estaduais está endividada, com mais de 42 mil em situação crítica. Fórum e deputado Junior Mochi unem forças para negociar redução de juros e criar plano de reestruturação de dívidas
O grave cenário do superendividamento dos servidores públicos de Mato Grosso do Sul mobilizou o Fórum dos Servidores Públicos do Estado e o deputado estadual Junior Mochi (MDB) em uma articulação para buscar uma solução junto ao governador Eduardo Riedel, por meio do Governo do Estado. As dívidas totais do funcionalismo, decorrentes majoritariamente de empréstimos consignados, atingem a cifra de R$ 7 bilhões a serem quitados, o equivalente a quase um ano da folha salarial do Executivo.
Na última segunda-feira (15/12), o Fórum realizou reunião na sede do Sindijus-MS com o deputado. A pauta central foi o uso excessivo de empréstimos consignados e os juros elevados praticados por instituições financeiras, que, em muitos casos, “induzem os servidores à contratação sucessiva de empréstimos,” aprofundando o endividamento.
Dimensão da Crise
Os dados mais recentes, de setembro de 2025, repassados pela Secretaria de Administração ao deputado Junior Mochi, revelam a gravidade da situação:
- Pessoas Endividadas: São 42.133 servidores (ativos e inativos) com dívidas ativas.
- Comprometimento Crítico: Mais de 42 mil servidores têm o comprometimento da renda acima do limite legal de 40%. Um grupo, classificado como em situação “dramática”, chega a ter o comprometimento de até 90% do salário ou benefício.
- Montante da Dívida: Os valores emprestados somam R$ 9,3 bilhões, com R$ 7 bilhões ainda pendentes de quitação.
O coordenador-geral Fabiano Reis, do Fórum dos Servidores Públicos de MS, detalhou a situação em reunião: “Para se ter uma dimensão real do problema, o total das dívidas dos servidores públicos estaduais já ultrapassa o equivalente a mais de dez folhas salariais do Estado de Mato Grosso do Sul, o que evidencia a gravidade do cenário e o alto grau de comprometimento da renda dos trabalhadores.”
Foco numa solução
Em uma segunda reunião realizada na tarde desta terça-feira (16/12), com a presença do coordenador de Previdência e Saúde, Bruno Alves da Silva Nascimento (Sindetran-MS), a secretária-geral Ellayne Fátima Loureiro de Freitas (Sinmasul) juntamente ao deputado Junior Mochi, na qual recebeu o ofício do Fórum e apresentou um panorama dos estudos já realizados, que incluem dados do Governo sobre o endividamento (modalidades, valores e faixas de comprometimento).
O coodenador Bruno enfantizou que o foco da articulação é buscar uma intervenção direta do governador Eduardo Riedel para negociar melhores condições para a categoria.
Nossa intenção é, junto ao deputado, ir até o governador para que o Governo do Estado assuma esse compromisso, trate isso com os servidores mediante discussão de educação financeira e outros elementos que seja feito isso, e seja feito também um chamamento público do Governo do Estado, que é quem tem força e poder para conseguir negociar isso em benefício dos servidores”, ressaltou Bruno Alves.
O deputado Mochi, que já atuou em favor de sindicatos e verificou a situação “extremamente delicada” do endividamento, ressaltou o impacto social e na saúde mental dos trabalhadores.
“É muito sério o impacto na saúde mental, mencionando depressão e suicídios. A proposta de audiência pública me parece um passo fundamental para debater seriamente essa situação”, declarou o deputado.
Próximos Passos: Frente de Trabalho e Negociação com Bancos
O Fórum e o deputado Mochi irão formar uma Frente de Trabalho para aprofundar a análise técnica da dívida. A proposta central é buscar a recompra ou amortização das dívidas por meio de negociações com os bancos.

Para Mochi, a solução passa pela limitação do número de bancos que oferecem crédito consignado e pela negociação de portabilidade de dívidas com grandes instituições, incluindo bancos oficiais (Caixa Econômica e Banco do Brasil).
“Na perspectiva do deputado, seria possível lutar por juros menores e um plano ‘que alongue o perfil da dívida’, dando um respiro aos endividados,” informa o documento.
Ellayne Loureiro comentou que o deputado se comprometeu a conversar com o governador sobre as demandas do Fórum dos Servidores Públicos e pretende dar continuidade ao debate. “Quando retornar do recesso, o deputado Mochi também afirmou que pretender realizar uma audiência pública para tratar deste assunto”.
Crédito Rotativo
Outro questionamento recorrente dos servidores seria a eventual denúncia de que o banco deposita o valor na conta do servidor, mas desconta em folha apenas o pagamento mínimo da fatura, o que não cobre sequer os juros. Isso resulta no refinanciamento permanente do saldo devedor com as altas taxas do cartão de crédito rotativo, tornando a dívida “excessivamente onerosa e, na prática, impagável” – uma prática considerada abusiva e contrária ao Código de Defesa do Consumidor.
A coordenação do Fórum dos Servidores Públicos segue “atento, unido e firme na luta em defesa dos servidores e da dignidade do serviço público”.
Luta árdua
Logo após a diretoria eleita do Fórum dos Servidores assumir, em novembro, a coordenação alertou para possibilidade uma intervenção do Governo do Estado sobre o alto grau de endividamento da categoria, provocado, em grande parte, por juros abusivos em empréstimos consignados e pela modalidade controversa do “cartão de crédito consignado”. A preocupação foi exposta durante reunião com o Secretário de Administração (SAD), Frederico Felini, em reunião realizada em 12 de novembro, onde foi comentado sobre a possibilidade de realizar análise administrativa aprofundada sobre a metodologia financeira e a legalidade das taxas aplicadas pelos bancos.

Na ocasião, o Secretário de Estado de Administração (SAD), Frederico Felini, também demonstrou preocupação junto ao Fórum dos Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul, e confirmou que o tema do superendividamento do funcionalismo já está sendo tratada com prioridade em sua pasta. Ele informou que já está em andamento um estudo aprofundado sobre o cenário de crédito. Este levantamento tem como objetivo quantificar e detalhar a dívida da categoria. A finalidade é obter um diagnóstico preciso da situação, fundamental para embasar futuras ações regulatórias contra juros abusivos e práticas financeiras questionáveis.
Além disso, ressaltou que no ano que vem, o Governo do Estado pretende lançar um programa junto aos servidores públicos, visando eventuais soluções como educação financeira, renegociação de dívidas e linhas de crédito mais justas.
Fonte: Roberta Cáceres / Jornal Servidor Público MS
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