Crise entre Brasil e Israel vai ganhar novo capítulo nos próximos dias
Brasil corre o risco de ficar sem embaixador de Israel na próxima semana, quando o atual chefe da missão deixará o posto/Foto: Arte/Metrópoles
A menos que o governo federal mude de ideia, o Brasil deverá ficar sem embaixador de Israel esta semana, evidenciando ainda mais a crise diplomática entre os dois países por conta da guerra na Faixa de Gaza.
Tensão entre Brasil e Israel
- Desde que Lula assumiu a presidência, a relação entre Brasil e Israel tem vivido momentos de tensão.
- De um lado, Israel acusa o governo brasileiro de ter posturas pró-Hamas. Do outro, Lula tem feito críticas quanto à atuação israelense na Faixa de Gaza, onde mais de 50 mil pessoas já morreram.
- O ápice da crise aconteceu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
- Depois da repercussão negativa da fala, o presidente brasileiro foi declarado persona non grata em Israel. Em retaliação, Lula retirou o embaixador do Brasil em Tel Aviv, dando assim menos peso na relação diplomática dos dois países.
- Neste ano, o Brasil ingressou formalmente em uma ação judicial que acusa Israel de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Daniel Zonshine chefia a missão diplomática de Israel no Brasil desde 2021, mas vai deixar o país na terça-feira (12/8), para se aposentar.
Com a saída do atual embaixador israelense no Brasil, a representação diplomática ficará momentaneamente sem um chefe do primeiro escalão, o que pode ser traduzido como o distanciamento de um país em relação a outro no mundo diplomático.
A decisão de deixar o cargo vazio não parte da administração israelense, mas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em janeiro deste ano, o ex-embaixador de Israel na Colômbia, Gali Dagan, foi indicado para assumir o posto no Brasil. Mas, até o momento, seu agrément — permissão para um diplomata assumir uma embaixada — ainda não foi aprovado pelo governo brasileiro.

Antes de deixar o cargo, Zonshine lamentou os atritos entre Israel e Brasil em um café da manhã com deputados do partido Republicanos. Apesar disso, ele prometeu que a embaixada continuará funcionando mesmo que a nomeação de Dagan não seja aprovada.
Ao Metrópoles, fontes ligadas à diplomacia israelense afirmam que ainda não está claro quem deverá ficar à frente da embaixada.
Afastamento gradual
Ainda que a não aprovação do novo embaixador israelense oficialize o afastamento diplomático entre Brasil e Israel, o distanciamento defendido por alas do governo federal já acontecia nos bastidores desde o início do governo Lula III.
No convívio diplomático, os bons costumes pedem que países anfitriões de uma embaixada enviem representantes para eventos promovidos pelas representações, como forma de demonstrar apreço pela relação entre as duas nações. O hábito protocolar, contudo, foi deixado de lado pelo Itamaraty em eventos promovidos pela embaixada de Israel.
Fontes ligadas à representação diplomática afirmam que, desde o início do governo Lula III, raramente representantes do Itamaraty comparecem as cerimônias, festas e eventos de data nacional de Israel.
Uma das últimas vezes em que a diplomacia brasileira enviou um funcionário para um evento da embaixada de Israel aconteceu no Dia Nacional de Lembrança do Holocausto, em maio deste ano. Na época, o diretor do departamento de Oriente Médio, embaixador Clelio Nivaldo Crippa Filho, representou o Itamaraty em cerimônia solene realizada no Congresso Nacional.
Fonte: metropoles.com/Junio Silva, Augusto Tenório