HÁ VINTE ANOS – A grave omissão de Lula
Réu confesso, mas tudo ficará por isso mesmo/Foto: Orlando Brito
Lula cometeu a maior rata dos seus dois anos e tanto de governo ao impedir a divulgação de uma denúncia de corrupção que atingiria o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Um presidente da República não pode ouvir sem tomar nenhuma providência o que Lula diz ter ouvido. Muito menos pode ouvir a denúncia e ordenar ao seu auxiliar que a guarde para si.
Pior ainda: não poderia ouvir sem nada fazer; não poderia mandar o auxiliar guardar silêncio; e não poderia, agora, contar impunemente o que se passou.
Não sou advogado, não consultei nenhum advogado, mas desconfio de que Lula cometeu um crime de responsabilidade. E que agora virou réu confesso.
Pouco importa que tenha sido movido pelas melhores intenções ao decretar silêncio em torno da denúncia para evitar que sua divulgação causasse danos à imagem do país.
A legislação prevê meios e modos de se investigar uma grave denúncia sem que ela se torne pública no primeiro momento. “Segredo de justiça” existe justamente para isso.
Lula foi omisso. E pagará um alto preço político por isso.
Para quem não se recorda, foi isso o que contou Lula:
“Eu lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, veio prestar contas de como ele tinha encontrado a instituição em que estava trabalhando, e me permitam aqui não dizer a instituição. E ele me disse simplesmente o seguinte: a nossa instituição está quebrada. Estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu antes de nós foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira.
“Eu disse ao meu companheiro: olha, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Aí fora você fecha a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento do país. Porque se nós, com três meses de posse, saímos pelo Brasil vendendo a ideia de que determinadas coisas importantes, em que a sociedade brasileira acredita, que determinadas instituições da República estão quebradas, eu me pergunto: que mensagem a gente vai passar para a sociedade, tanto a interna quanto a externa?”
(Publicado aqui em 25 de fevereiro de 2005)
Fonte: metropoles.com/Ricardo Noblat