Governo de MS apresenta LDO 2026: Servidores públicos podem enfrentar perda salarial

Previsão de déficit fiscal e adesão ao programa de renegociação de dívidas indicam menor otimismo para reajustes e podem gerar arrocho salarial.

O cenário econômico projetado para Mato Grosso do Sul em 2026, conforme a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) à Assembleia Legislativa, acende um alerta para os servidores públicos em relação a possíveis perdas salariais. Diversos fatores indicam um ambiente de maior restrição orçamentária, que pode impactar diretamente a remuneração.

Conforme reportagem do jornal Correio do Estado — publicada no dia 5 de junho —, para 2026, o governo estadual prevê uma receita total de R$ 23,86 bilhões e despesas de R$ 24,2 bilhões, resultando em um déficit de R$ 207,2 milhões. Os valores não consideram as fontes de receita do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS).

LDO foi encaminhada para aprovação da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul

Enquanto, para este ano, o Estado ainda prevê encerrar o exercício orçamentário com um superávit primário de R$ 366,2 milhões, para 2026, a estimativa é de que as contas fiquem no vermelho. A variação negativa seria de 156,6%, caso a previsão contábil enviada à Alems se concretize.

Um déficit primário significa que o governo gastará mais do que arrecada, mesmo sem considerar os juros da dívida. Essa situação, combinada com um menor otimismo na arrecadação, reduz a margem de manobra para investimentos e, principalmente, para a concessão de reajustes salariais aos servidores. Com as contas no vermelho, a prioridade tende a ser a contenção de gastos.

RGA 2025

Um ponto que não teve a devida atenção, foi que a Revisão Geral Anual deste ano os servidores já obtiveram uma perda no índice levando em consideração de que o Estado calculou o IPCA de fevereiro a fevereiro — 5,06% de reposição — sendo que a data base da categoria é o mês de maio.

Ou seja, os servidores perderam dois meses de perda na reposição, índice que poderia aumentar até 0,47%, chegando ao índice de 5,53%, caso fosse levado em consideração os meses de março e abril.

Anteriormente, a coordenadora do Fórum de Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul e presidente do Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de MS (Sisalms), Ana Cláudia Gomes ressaltou a falta de transparência na definição do índice de reajuste. “A questão é a falta de critério e de transparência, até porque na mensagem do Projeto de Lei ele poderia ter explicado e justificar também qual período está sendo é utilizado para o cálculo e esclarecer porque a nossa data base é em maio e o índice vai ser retroativo a 1º de maio, no entanto, esse índice é referente ao mês de fevereiro. Então, o servidor está tendo uma perda de dois meses de correção”.

Lideranças do Fórum dos Servidores Públicos acompanharam a aprovação em primeira discussão pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, do projeto de lei que concedeu reajuste de 5,06% aos servidores públicos estaduais

Na busca pelo diálogo, o Fórum dos Servidores oficiou no dia 7 de março ao governador, requisitando a reunião para tratar desse índice. No entanto, ele mandou o projeto de Lei sem diálogo prévio. “O ofício foi reiterado no dia 7 de maio para que ele esclareça da onde foi retirado esse índice inflacionário aplicado no projeto de lei e cobrando a promessa de se reunir constantemente com os sindicatos, manter o diálogo e, claro, sempre apresentar previamente os projetos de interesse dos servidores para que sejam debatidos”, questionou o coordenador do Fórum, Leonardo Lacerda.

Contingenciamento de Gastos

Outro ponto apresentado é a possível adesão de Mato Grosso do Sul ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Embora a renegociação da dívida pública, que pode cair de R$ 12,12 bilhões em 2025 para R$ 10,81 bilhões em 2026, traga benefícios de longo prazo, a adesão ao programa federal impõe uma limitação no crescimento das despesas.

Conforme o Propag, o estado que aderir não pode ter aumento de despesas superior ao IPCA (inflação oficial) no primeiro ano do novo regime fiscal. Para 2026, a expectativa é de que as despesas do Estado cresçam 7,41%, o que está acima do IPCA projetado. Isso significa que a adesão ao Propag poderá acarretar contingenciamento de gastos, um termo que o próprio governador Eduardo Riedel destacou em mensagem à Assembleia Legislativa.

Para os servidores públicos, o contingenciamento de gastos pode se traduzir em:

  • Ausência ou reajustes salariais abaixo da inflação: Com o limite de crescimento de despesas atrelado ao IPCA, e a necessidade de corte de gastos, a probabilidade de reajustes que reponham o poder de compra integralmente diminui consideravelmente.
  • Arrocho salarial: A contenção de despesas com pessoal pode levar a um arrocho salarial, onde o poder de compra do servidor é corroído pela inflação, sem a devida correção nos vencimentos.
  • Congelamento de contratações e promoções: Em cenários de aperto fiscal, é comum que haja restrições na realização de concursos públicos e nas progressões de carreira, impactando a ascensão profissional dos servidores.

Limite Prudencial

Adicionalmente, o governo de Mato Grosso do Sul já ultrapassou o limite prudencial de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no primeiro quadrimestre deste ano. Com despesas de pessoal em 46,92% da receita corrente líquida ajustada, acima do limite prudencial de 46,55%, o Estado já está em uma situação de alerta.

Embora o governo atribua essa ultrapassagem à frustração de receitas neste início de ano, a LRF impõe medidas de ajuste quando esses limites são atingidos, que podem incluir a proibição de reajustes, a não contratação de novos servidores e a restrição de novas despesas com pessoal.

Em agosto do ano passado, os policiais civis realizaram manifestação na Alems reivindicando melhores condições de trabalho. Na época questionaram que algumas categorias receberam benefícios de valores exorbitantes, enquanto outras acumulam prejuízos e são desvalorizados.

Perspectiva para 2026

Em resumo, a combinação de um déficit fiscal projetado, a possibilidade de adesão ao Propag com suas restrições de crescimento de despesas e a situação atual de gastos com pessoal acima do limite prudencial criam um ambiente desfavorável para os servidores públicos de Mato Grosso do Sul em 2026. A perspectiva é de que a gestão fiscal priorize a contenção de gastos, o que pode resultar em perda de poder de compra para a categoria, caso os reajustes não acompanhem, no mínimo, a inflação.

Fonte: Roberta Cáceres/ Jornal do Servidor Público MS

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